Em alguma aula de EBD nos
adolescentes, aprendi que as ações e propósito de Deus revelam o caráter dEle.
Cada detalhe da narrativa bíblica pode nos dizer mais sobre quem Deus é. Dentre
tantas características, pretendo ressaltar um chavão verdadeiro: Deus é amor. E
nos ama enquanto mulheres. Continua nos amando se e quando nos tornarmos mães.
Tem algo na bíblia que tenho notado cada vez mais: Deus é cauteloso com as mulheres, percebe nossas especificidades, nossos desafios. Conhece o mais profundo anseio de um coração que se alegra e se assusta ao mesmo tempo quando descobre: eu vou ter um filho.
Tem algo na bíblia que tenho notado cada vez mais: Deus é cauteloso com as mulheres, percebe nossas especificidades, nossos desafios. Conhece o mais profundo anseio de um coração que se alegra e se assusta ao mesmo tempo quando descobre: eu vou ter um filho.
Acho que a par de toda a áurea de
santidade e pureza em torno da figura de Maria, independente da doutrina cristã
que você segue, todas concordam que ela era 100% humana no momento em que soube
que estaria grávida do filho de Deus. Não é difícil imaginar que por mais
confiança em Deus que tivesse, devia ser bem difícil entender que ela daria a
luz ao Salvador de forma sobrenatural. Será que ela ficou ansiosa depois do
sonho com o anjo? Quando a gravidez começou, será que ela também sofreu enjoos,
variações hormonais, inchaços, dores e mudanças bruscas de humor? Maria teve
desejos ou medo da dor no parto?
Uma amiga me chamou a atenção
para uma figura pouco lembrada nas pregações sobre o nascimento de Jesus:
Isabel.
Deus é tão cuidadoso que não
deixou essa mulher grávida do Salvador sozinha. E eu não estou falando apenas
de José.
Havia planos para o grande João
Batista, esse anunciador que viria antes do Salvador. Mas, havia algo anterior.
A própria gestação dele e sua a mãe seriam bálsamos na vida da jovem gestante
Maria. Isabel já tinha idade avançada, era casada com um sacerdote do templo (que
a princípio duvidou das palavras do anjo Gabriel e por isso estava mudo). Maria,
bastante nova, virgem, conseguiu o apoio de seu futuro marido graças a uma
aparição do anjo para ele.
Ambas, com idades e experiências
tão diferentes foram escolhidas por Deus como instrumentos para que as
profecias fossem cumpridas. Duas mulheres agraciadas, que estariam juntas se
preparando para uma importante jornada.
Foi o próprio anjo que apareceu a Maria que a
avisou sobre a prima:
“E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice;
e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; Porque para Deus nada
é impossível.” Lucas 1:36-37.
A bíblia conta que Maria foi apressadamente
a uma cidade de Judá e entrando na casa de Zacarias, saudou a Isabel. o bebê no
útero se mexeu e Isabel foi cheia do Espírito Santo, bendizendo Maria:
“Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.
E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas. (Lc: 42-45)
E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas. (Lc: 42-45)
Não é coincidência que o lindo
cântico de ação de graça de Maria se dê logo depois desse encontro de amor,
acolhimento e fortalecimento da fé, como descrevem os versículos seguintes.
A bíblia não diz, mas eu aposto
que os quase três meses que Maria e Isabel ficaram juntas durante a gestação
(Lc 1:56) foram essenciais pra que ambas pudessem se fortalecer antes da
difícil tarefa que seria criar João Batista e Jesus Cristo.
Esse apoio irrestrito durante a
gestação não é tão comum nos dias de hoje. Acredito que poucas fases na vida
são tão solitárias e assustadoras quanto a gestação e o puerpério.
Ainda que o bebê seja gerado na
mais tradicional e planejada família. É preciso se preparar para as
dificuldades que cuidar de um recém-nascido. Passou da hora de entendermos que
muito além de um instinto, as mães precisam ser preparadas e ajudadas para que
este momento de alegria não acabe em frustrações pela romantização excessiva do
que devem ser os primeiros meses.
Eu nunca entendi o por que dos
textos cristãos sobre maternidade terem uma idealização quase tão grande quanto
sua inutilidade prática. Não se fala
sobre depressão pós parto, sobre a abstinência de sono, sobre as mudanças do
corpo da mulher, sobre a necessidade da parceria e apoio do marido para uma
amamentação bem sucedida, enfim, sobre as mil dificuldades que serão superadas
antes daquele bebezinho aprender a falar: “ma-mã”. Há sempre uma intensa
cobrança para que a mulher continue com todos os cuidados com o casamento e com
si própria. Pouco se fala sobre a dificuldade do homem entender que começou um novo
papel na vida da sua companheira. Sentimentos de abandono e quebra do
companheirismo são comuns nessa fase. Há muitas notícias de divórcios de casais
(famosos ou não) com filhos menores de um ano. A gravidez muda a mulher, ter
filhos impacta um casamento (e não precisa ser para pior).
Tem um antigo ditado que diz que
é preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança. Infelizmente, não
vivemos em aldeias – nem em sentido figurado. Quando passa a exultação e as
primeiras visitas a um bebê recém nascido, todo nosso mundo com nosso filho se
resume a um apartamento vazio, galinha pintadinha e poucos passeios no pediatra,
parque ou shopping. As avós, mesmo quando bastante dispostas, também trabalham
fora. É preciso esperar as vacinas para ir em festas e ambientes fechados.
Perdem-se eventos sociais, ficam mais escassos os amigos. A própria rotina pesada e falta de sono dos
primeiros meses já desanimam qualquer aventura.
Não é raro uma gestante sumir da
igreja perto do parto e só aparecer com um bebe de uns 4 meses para a
apresentação ou o batismo. E, então, por um bom tempo, essa mulher isolada
assiste o culto no berçário ouvindo a mensagem por um alto falante. De quando
em quando, algumas se arriscam nos bancos comuns – até que no primeiro choro
recebem olhares fulminantes de idosos, adolescentes e até de outras mães que já
se esqueceram que bebês choram.
Mas, e nesse meio tempo? O que
nossa igreja tem feito?
Os ensinamentos tradicionais dos
cursos de noivos atrapalham. Aprendemos que deixar nosso pai e nossa mãe
precisa ser algo radical e ríspido. Temos que cortar todos os laços para um
casamento bem sucedido e é vergonhoso pedir ajuda – a mulher sábia edifica sua
casa (sozinha). E é aqui que nossa cultura da família nuclear não funciona. Com
a licença paternidade sendo de míseros 3 (ou 5) dias, uma mãe solitária passa a
ser responsável por um bebê. De repente. E não só do bebê, porque ainda tem a
casa, o medo de voltar da licença, os cuidados com o marido, dificuldades
financeiras, recuperação do parto...
Todo o puerpério transtorna,
deixa todos a flor da pele. Sempre me compadeço de mães que confessam com certa
tristeza que só conseguiram curtir o bebê depois dos 3 meses. Não é fácil. Uma
rotina pesada, acordar a cada 2h e meia ou 3h, aprender a amamentar, a cuidar
do umbigo, trocar fralda, descobrir o porque a falta de sono é torturante em
longos períodos. Isso se você não precisou passar por uma UTI neonatal. Se você
for mãe de segunda viagem, ainda tem que lidar com a relação entre irmãos, as
cobranças do mais velho.
Ainda que o pai seja o melhor que
ele deve ser, é normal que se ausente de casa por 9 a 12 horas por dia,
contando o trabalho e o trânsito. O vizinho reclama do choro de madrugada, mas
raramente oferece algum suporte. Amigos e família moram longe. Todo mundo está
sempre muito ocupado. A vida na cidade inclui seus isolamentos.
Talvez esteja na hora de
rompermos as barreiras e sermos ainda mais parecidos com os exemplos bíblicos,
de sermos homens e mulheres comprometidos a sermos corpo, a sermos família.
A todos os amigos e familiares de
puerpérias, entendam a ausência da mãe e se façam presentes, nem que seja por
mensagens. Perguntem como podem ajudar. Para algumas mães, ter alguém para lavar a
louça acumulada é um alivio, para outras é uma invasão. Conversem, se preocupem
com aquela mulher. Deixem as dicas e
opiniões sobre criação de filhos apenas quando elas forem solicitadas e
respeitem as decisões da maternagem alheia.
A todos os recém pais (ou
futuros) fica o conselho de serem cautelosos com o bebê e com a mãe. Sejam
especialmente pacientes na quarentena, o respeito a sexualidade do casal e
rejeitem a pornografia nesse momento sensível para ambos. Lembrem-se que vocês são co-responsáveis por
tudo na casa e na família (e não apenas ajudadores). Ser ativo nos cuidados com
o bebê vai ajudar a criar vínculo com seu filho e com a nova fase de sua
esposa: dar banho, trocar fraldas, lavar a mão, vestir uma roupinha especial,
trazer um copo cheio de água gelada para a mãe que amamenta.
A todas as recém mães (ou
futuras) gostaria de lembrar que o Deus que cuidou de Maria e Isabel enquanto mulher e gestante também cuida de
nós. Não tem nenhum problema se nosso cântico de júbilo demorar um pouquinho
para sair. Ele está olhando por nós, conhece a mais íntima insegurança e pode
trazer amigos para acalmarem nosso coração.
Marina Jacob colabora e escreve para o blog Cristo Urbano.
Este texto, como os das demais colunas opinativas do blog, é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente o ponto de vista dos demais colunistas ou do cristourbano.com.br.
Marina Jacob colabora e escreve para o blog Cristo Urbano.
Este texto, como os das demais colunas opinativas do blog, é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente o ponto de vista dos demais colunistas ou do cristourbano.com.br.
Marina, que reflexão maravilhosa. Obrigada.
ResponderExcluirLindo de mais
ResponderExcluirMuito bom texto! Não sou mãe ainda, me assusta um pouco essa previsão... mas que bom que temos um Deus consolador que não nos deixa sozinhas e providencia tudo no tempo certo!
ResponderExcluir