Loic Djim (Unsplash: High Resolutions Free Images).
É domingo, dia do Senhor. A
igreja envia com muita alegria e um pouco de preocupação um casal de jovens
missionários que vai viajar durante a semana. Esse casal decidiu mudar-se para
um lugar distante, que enchemos o peito para chamar de “campo missionário” e que
nem podemos especificar por causa do risco de perseguição. A igreja sente todo
o êxtase do cumprimento do ide
de Jesus, e também a preocupação sobre o que será desse jovem casal no campo: como
vão fazer para comer? Onde vão morar? Será que correm muito risco? O que
podemos fazer para ajudá-los?
Tudo isso é
válido e importante, mas eu não me preocuparia tanto com eles. Talvez eles são
os mais adequados nessa história e temos a plena confiança de que o senhor da
missão não deixa desamparados nenhum dos seus.
Mas eu me
preocuparia mais com os que ficaram e minha razão para isso é simples: quando
tratamos campo missionário como um conceito distante, nós podemos até apoiar
missionários, orarmos por eles e contribuirmos para aliviar as suas
dificuldades, mas estamos negligenciando algo óbvio e que também nos pertence:
a missão.
O paradigma do
“campo missionário” é confortável para muitos na igreja pois os afasta da
missão ao invés de os aproximar dela. Conhecer a realidade dos campos
missionários através de vídeos e estatísticas e “enviar alguém” para responder
a essa realidade parece suficiente e satisfatório, mas não é.
Devemos nos lembrar
de que campo missionário não são apenas os espaços que ocupamos, mas as horas
do dia em que vivemos em nossas ocupações. Para o cristão, a vida é uma missão
e se não é, ele não é de fato seguidor de Cristo. Nas palavras de Spurgeon, é um impostor.
Eu penso que uma
das razões que nos atrapalham a viver uma vida missionária é o amor a nós
mesmos.
A Bíblia conta a
história de um missionário que amou a si mesmo: Jonas. Esse missionário foge da
missão porque está ensimesmado e é surpreendido com a oferta compassiva do amor
de Deus além do seu próprio umbigo. Ele é resoluto em sua decisão de preferir
morrer a ver o cumprimento do que Deus queria que fosse feito. Mas a história
termina com Deus confrontando o amor de Jonas por si mesmo afirmando o seu
amor: “E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive…?” (Jn
4.11)
O que Jonas e nós
temos em comum é que muitas vezes queremos uma missão que seja distante para
não lidarmos com as implicações imediatas que ela nos exige. Queremos uma missão
que esteja lá no Oriente Médio ou na África, mas não aqui no nosso quintal. Não
queremos abrir mão do espaço controlado pelas nossas expectativas e desejos
pois estamos ocupados demais amando os nossos próprios interesses. Estamos
perto de nós, mas longe de Deus (e de sua missão). Logo a repreensão de Deus a
Jonas também nos alcança. Aprendemos nessa história que missão é o oposto: é
nos afastarmos de nós e nos aproximarmos de Deus e do que ele ama.
O exemplo da
missão é o próprio Jesus que adequa em si tudo o que é inadequado em Jonas e em
nosso olhar ensimesmado. É com Jesus que aprendemos como nos libertamos da
tirania de olhar para nós mesmos e olhamos para o outro compassivamente. É no
exemplo de Cristo, que mesmo sendo Deus veio dar a sua vida em favor de homens
e mulheres pecadores, que encontramos que o sentido da missão é além de nós
mesmos.
Nisso também
percebemos que é o cotidiano a nossa maior oportunidade de abrirmos mão de nós
mesmos e amarmos o mundo como Deus o ama (e ele ama muito, Jo 3.16), nos
entregando sacrificialmente e servindo-o para o seu bem. Isso tudo deve
acontecer no dia-a-dia em que os seguidores de Cristo vivem em qualquer cidade
no mundo uma vida de fato missionária (ou missional).
Por isso missão
não é agenda e nem programação. Missão é viver a vida do jeito que Deus quer
que vivamos: cheia de compaixão e amor, porque Ele é assim.
Oro para que além de enviarmos em domingos
especiais missionários para os confins do mundo, enviemo-nos para os nossos
cotidianos. Que cada benção apostólica seja de fato uma chamada de envio e de
vida missionária na cidade. Que cada hora do nosso dia-a-dia seja preenchida
pelo amor sacrificial que recebemos de Jesus. Que sejamos os primeiros a servir
e os últimos a serem servidos e que encontremos a missão além de nós mesmos. E
por fim, que as boas notícias de salvação encontrem os corações ensimesmados e
os transformem para amarem além de si mesmos.
João Vinicius colabora e escreve para o blog Cristo Urbano.
Este texto, como os das demais colunas opinativas do blog, é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente o ponto de vista dos demais colunistas ou do cristourbano.com.br.
Uaall!!!
ResponderExcluirComo é bom ler isso. E como é difícil fazer com que nossas igrejas entendam essa verdade! Estive em 'campo missionário' por dois anos, e aí me chamaram de missionária e etc. Só por ter voltado pra casa, e querer viver a missão integral, de fato, deixei de ser 'missionária' aos olhos de quem 'enviou'.
Fico pensando, por que é tão difícil entender que a missão é de todo Cristão, onde ele estiver?
Obrigada pelo texto!
Coração tá agradecido. :)